“Lá, onde reina a eterna primavera,
Onde o som não percutido soa por si só,
Onde a luz imaculada preenche o espaço todo;
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Lá, onde milhões de Bramas leem os Vedas,
Onde milhões de Vishnus inclinam suas cabeças,
Onde milhões de Shivas imergem em contemplação;
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Lá, onde milhões de Krishnas sopram suas flautas,
Onde milhões de Saraswatis dedilham douradas vinas,
Onde miríades de deuses e almas libertas vivem em extase;
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Lá, nessa outra margem que poucos alcançam,
Nessa praia distante, meu amado Senhor se desvela,
E o odor de flores e sândalo perfuma esse confim.”
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*Kabir, grande mestre e poeta indiano do século XV, discorreu, em linguagem acessível, sobre o amor místico e a comunhão com o divino. Kabir não se definia como hindu, muçulmano ou sufi. Ele desprezava credos, denominações e ascetismos, levando a filosofia oriental a um novo rumo.
Fonte: Kabir, Cem Poemas, selecionados por Rabindranath Tagore. José Tadeu Arantes, Ed. Attar, 2 ed., 2019.